O Rei Leão — Um discurso necessário

Como a história de Simba e Mufasa pode fazer diferença às crianças da segunda década do século XXI

Lucas Perales
6 min readJan 16, 2019
Fonte: Walt Disney

Família, lealdade, responsabilidade e respeito são alguns dos temas que um dos maiores desenhos da Disney aborda. Seu primeiro lançamento aconteceu no comecinho dos anos 1990 e se tornou, com facilidade, um dos maiores sucessos da Casa do Mickey tendo, inclusive, ganhado vários prêmios importantes e uma adaptação musical na Broadway. Então, 25 anos depois, os estúdios resolveram lucrar mais uma vez com a jornada de Simba, anunciando um quase live-action ainda para esse ano.

A adaptação acontece depois de a Disney testar o formato com outras histórias, começando com Malévola e passando por Cinderela, Mogli: Menino Lobo e, por último, A Bela e a Fera (Alice no País das Maravilhas passa batido por se tratar de uma nova leitura da história, enquanto os outros são verdadeiros remakes) e perceber que a fórmula realmente deu certo.

Uma pitada de nostalgia, o respeito às raízes da história e uma mudança aqui e ali para conversar com o novo público foi suficiente para que todas as releituras ganhassem destaque. O maior deles foi Mogli, que surpreendeu em efeitos visuais,enredo e elenco. Jon Favreau foi quem assinou a direção do longa(e também do primeiro Homem de Ferro, que está debaixo das asas da Disney) e ganhou respeito com os executivos da casa. Tanto que praticamente presentearam o diretor com O Rei Leão — uma baita responsabilidade.

Voltando um pouco no tempo

Fonte: Walt Disney

Final dos anos 80. A Disney acaba de emplacar um grande sucesso: A Pequena Sereia. Naturalmente, o filme ditou os moldes do que seriam os próximos — A Bela e a Fera e Alladin, que também foram sucessos absolutos. Os produtores da casa amavam fazer desenhos musicais e sua habilidade estava em contar romances épicos.

Chega, então, na mesa dos executivos uma ideia completamente exótica e contrária à tal fórmula. Mas já havia um outro projeto sendo desenvolvido após três sucessos consecutivos. E seu nome era Pocahontas. Era perfeito, com todos os ingredientes necessários para emplacar um novo blockbuster. E o incerto Rei da Selva (como era chamado na época) poderia atrapalhar todos os planos.

A produtora então decidiu colocar um grupo secundário para desenvolver essa ideia, já que toda sua equipe principal e estrelada estaria a todo vapor com a história da índia que se apaixona por um colonizador inglês. E o que poderia soar como o falecimento prematuro da jornada africana foi o que deu originalidade ao enredo.

Com mais liberdade, os artistas, animadores e roteiristas puderam tomar decisões mais ousadas e dar autenticidade à produção, fazendo com que O Rei Leão se tornasse a animação mais rentável da história cinematográfica — -inclusive, maior que o seu parceiro temporal.

Um discurso que precisa ser respeitado

Todos esses elementos criaram uma memória afetiva às crianças que viram O Rei Leão ainda no auge de toda sua glória. A animação era tão impactante, que deixou claramente registrado em cada mente quadros quase que emoldurados e eternizados nas emoções.

E, por isso, a primeira preocupação dos fãs mais nostálgicos — aqueles que cresceram ouvindo as canções do filme, que tinham a fita VHS verde em casa, que dançaram com Simba na sala — são os temas abordados no filme original. Existe uma certa desconfiança (ainda que pouca) a respeito desse aspecto na readaptação, para que o filme não perca suas peculiaridades. E é aqui que quero falar sobre a importância dos temas.

Fonte:Walt Disney

O filme começa falando sobre o Ciclo sem Fim (que também é a música tema), uma celebração da vida e de que as coisas acontecem sempre com um propósito. E esse talvez não seja um problema.

O tema central de O Rei Leão é nos ensinar a reconhecer nosso papel na sociedade e a entender como temos importância exercendo ele. Veja o principal conflito, que é Scar com Mufasa. O leão raivoso não se conforma com a posição que tem, a ponto de tramar a morte do próprio irmão para assumir seu papel. Ainda, Timão e Pumba com Simba. Em seu exílio, Simba é convidado a ter uma vida despreocupada em que o lema é Hakuna Matata. Mas, logo, descobre que não pode fugir de suas verdadeiras responsabilidades.

Essa central não pode ser desperdiçada. A geração atual precisa ouvir esse discurso. Precisa aprender que assumir suas responsabilidades é de extrema importância e que cada escolha que fazemos afeta a outros também. O senso comunitário precisa voltar a ser discutido com as crianças e que tudo o que temos são privilégios, não direitos.

Outro tema que não pode ser esquecido é o familiar. É algo que fala muito alto no enredo do filme. A relação de Mufasa com Simba, como o símbolo paterno que acolhe, ensina e deixa legado. Scar como o tio maldoso, mas que merece respeito por ser um leão mais velho. O senso que Simba cria de que é seu dever proteger os seus após a morte de seu pai. E é aqui que mora a problemática. Isso porque o conceito familiar ficou muito efêmero e volátil nos últimos tempos.

A figura paternalista pode não ser mais tão bem-vinda e, por isso, podemos ver uma mudança nesse ponte. E, só de mudar essa parte, o filme pode se descaracterizar completamente. Ainda, esse discurso é importante para que as crianças aprendam a reconhecer corretamente os papéis e posições de cada um no ambiente e estrutura familiar.

Fonte: Walt Disney

O Rei Leão ainda fala sobre hierarquia. Temos um rei que todos reconhecem o seu direito de exercer tal posição e se submetem à sua autoridade. Quando um elemento do grupo resolve subverter esse conceito, o caos se instaura. E submissão também não é um conceito tão aceitável nos dias de hoje, mas igualmente importante. Quando entendemos o conceito de submissão e reconhecemos nosso papel na comunidade, passamos a enxergar que todos trabalhamos por um bem comum. Um discurso que não faz muito sentido para muitos hoje, mas que é altamente necessário.

E, por último, a animação trata da soberba, respeito e obediência. Para mim, é emblemática a transformação de Simba. Ele começa ansioso, querendo logo assumir o lugar do pai para poder reinar sobre todos os animais antes de completar seu treinamento. Ele não respeita à Zazu, o pássaro que é responsável por ele, desobedece a orientação de seu pai e zomba da posição de mais velhos. E é necessário ele passar por um período de exílio para entender a humildade e lealdade.

Esse último é mais do que urgente. Temos crianças rebeldes, indisciplinadas, respondonas. Precisamos falar mais sobre isso com elas, para que no futuro não se tornem inimigas de seus pais.

Todo esse falatório para dizer que, sem dúvida, O Rei Leão ainda é atual. Seu discurso ainda é urgente e seu conceito visual ainda mais incrível. Tudo o que envolve essa história é emblemático e relevante.

Esperamos que a adaptação seja sucesso absoluto, não só porque temos muito afeto pela história, mas porque ainda temos esperança de ensinar. E acredite, cinema, meu caro, não é só entretenimento, também é ensino.

Se você não viu ao maravilhoso trailer, veja, se emocione e segure seu coração até a estréia:

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Lucas Perales

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